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28/04/2025O Brasil, que ocupa a presidência do Brics, exortou, nesta segunda-feira (28), o reforço do multilateralismo como mecanismo para acabar com os conflitos na Ucrânia e em Gaza, ao iniciar uma reunião de chanceleres do bloco no Rio de Janeiro, também dedicada ao tema da guerra tarifária. O encontro de alto nível ocorre em um dia crítico para o conflito entre Kiev e Moscou, depois que o presidente russo, Vladimir Putin, surpreendeu ao anunciar, nesta segunda, uma trégua de três dias, de 8 a 10 de maio. Em resposta, Kiev pediu aos russos um cessar-fogo “imediato” de pelo menos 30 dias. “Defendemos a diplomacia em vez do confronto e a cooperação em vez de unilateralismo”, disse o chanceler Mauro Vieira, na abertura do encontro no Palácio do Itamaraty, no centro do Rio.
“O conflito na Ucrânia continua a causar pesado impacto humanitário, ressaltando a necessidade urgente de uma solução diplomática”, acrescentou. Os chanceles dos países-membros do Brics se reúnem durante dois dias como preparação para a cúpula dos chefes de Estado e governo do bloco, prevista para 6 e 7 de julho no Rio. O Brasil exerce este ano a presidência rotativa do bloco, formado também por China, Rússia, Índia, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã, Indonésia e Arábia Saudita. A presidência brasileira do Brics também instou a “retirada total” das forças israelenses de Gaza e considerou inaceitável a obstrução da chegada de ajuda humanitária ao território palestino.
Israel retomou sua campanha militar na Faixa de Gaza em 18 de março, depois que uma trégua de dois meses veio abaixo por desavenças com o grupo islamista palestino Hamas, cujo ataque sem precedentes contra Israel, em outubro de 2023, deu início à guerra. “A retomada dos bombardeios israelenses em Gaza e a obstrução contínua da ajuda humanitária são inaceitáveis”, disse Vieira. “É necessário assegurar a retirada total das forças israelenses de Gaza”, acrescentou. Ao menos 40 pessoas morreram nesta segunda-feira em Gaza em bombardeios israelenses, informou a agência de Defesa Civil do território palestino.
Guerra tarifária
A reunião de alto nível também abordará a guerra comercial desatada pelo presidente americano, Donald Trump. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu as previsões de crescimento mundial para 2,8% para este ano, devido aos “níveis extremamente elevados de incerteza” pelas tarifas americanas e as represálias de vários países. Os chanceleres da Rússia, Sergei Lavrov, e da China, Wang Yi, estão entre os presentes. O bloco, que representa quase metade da população mundial e 39% do PIB global, buscará se posicionar como defensor de um comércio baseado em regras diante de medidas unilaterais “de qualquer origem que sejam”, assinalou aos jornalistas.
A guerra comercial desatada pelo republicano Donald Trump afetou especialmente a China, membro-fundador do Brics, com tarifas de 145% sobre seus produtos, que Pequim respondeu com tarifas de 125% às importações americanas. O bloco “assumirá o papel de defensor das normas e da ordem globais”, mas, “ao mesmo tempo, deseja evitar qualquer confrontação direta com o governo Trump”, estimou Michael Shifter, do centro de estudos Diálogo Interamericano.
Desdolarização?
O tema sensível do impulso à desdolarização do comércio entre os países do Brics, debatido em outubro na cúpula de Kazan, na Rússia, e que provocou ameaças de Trump de 100% foi relativizado por Lavrov. O chanceler russo disse que o bloco se dedica a facilitar o aumento das transações comerciais nas moedas nacionais de seus membros. Mas “seria prematuro debater a transição para uma moeda única para o BRICS”, disse Lavrov ao jornal O Globo, segundo a transcrição para o inglês da entrevista publicada nesta segunda-feira pela chancelaria russa.
Roberto Goulart Menezes, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), lembra que o Brasil está entre os países menos castigados com as tarifas aduaneiras (10%) e indicou que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tentará fazer com que prevaleça a “cautela”. “Se tivermos uma posição mais dura em relação aos Estados Unidos é porque a posição da China prevaleceu”, disse ele à AFP. O Brics vai publicar uma declaração ao final deste primeiro dia de reuniões.
Publicado por Luisa Cardoso
*Com informações da AFP
Fonte: Jovem Pan Read More