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08/10/2024Hoje, ocorre a sabatina de Gabriel Galípolo na CAE – Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Geralmente sabatinas, de presidente do Banco Central a ministros do STF, são protocolares. Por mais que seja um jogo de cartas marcadas, a sabatina é importante para a sociedade ter clareza do pensamento de Galípolo sobre economia – especificamente sobre inflação e condução da política monetária. É na sabatina que o futuro presidente do Banco Central faz um compromisso com a sociedade brasileira. Se, posteriormente, suas ações estiverem em descompasso com o contrato firmado durante a sessão no Senado, o presidente do Banco Central poderá ser acusado de “estelionato intelectual”.
Provavelmente, as perguntas na CAE vão girar em torno se Galípolo vai ceder ou não às pressões políticas de Lula. Por enquanto, Galípolo não se curvou às tentativas de Lula de baixar os juros “na canetada”. Na última reunião do Copom, votou por aumentar a Selic em 0,25 p.p, seguindo os votos do presidente Campos Neto e demais diretores. Porém, há uma dúvida se Galípolo, nas últimas reuniões, votou de acordo com Campos Neto por convicção ou por estratégia.
Estrategicamente, a ideia de votar em compasso com o presidente Campos Neto seria evitar o risco de não passar na sabatina, e realizar uma transição mais tranquila para a presidência do Banco Central. Galípolo sabe que, nesse período, qualquer cuidado é pouco. Qualquer desconfiança do mercado, em relação ao seu alinhamento com as ideias do presidente Lula, poderá gerar problemas imediatos, como deterioração das expectativas inflacionárias, que dificultarão muito o seu trabalho na presidência do Banco Central.
Além desse risco, Galípolo sabe que a presidência do Banco Central pode ser a ponte para alavancar ainda mais o seu nome no setor privado ou coloca-lo no ostracismo. Galípolo não é um figurão da economia, como Pastore, Delfim, Gustavo Franco, entre outros. A presidência do Banco Central pode ser a grande chance da sua vida de projetar seu nome, assim como fez Roberto Campos Neto.
Campos Neto também chegou à presidência do Banco Central sem gozar de uma grande reputação acadêmica, diferentemente do seu avô. Porém, a boa condução da política monetária o levou ao reconhecimento internacional, como excelente presidente do Banco Central. Pode ser até que o pensamento de Galípolo, dado seu histórico acadêmico ligado a ideias keynesianas (mais Estado na economia e rigidez de preços no curto prazo), esteja mais alinhado com os anseios do presidente Lula – diminuição de juros para buscar crescimento econômico, mesmo com risco inflacionário – do que com Campos Neto.
No entanto, o risco reputacional para a sua carreira é altíssimo, caso escolha o caminho de Lula. Até porque, a presidência do Banco Central é transitória, e Galípolo voltará ao mercado depois de 4 anos.
Dada essas circunstâncias, Gabriel Galípolo tem mais incentivo para ser técnico, e seguir os passos de Campos Neto, do que ceder às pressões políticas de Lula, mesmo que seja por pragmatismo, e não por convicção.
Fonte: Jovem Pan Read More